terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O carnaval dos Unidos da Pindaíba


O barracão da Unidos do Porto da Pedra: escola da Série A ainda desmonta alegorias do ano passado, que terão 80% de suas estruturas aproveitados   
  • A um mês do carnaval, escolas enfrentam dificuldades para aprontar seus desfiles
  • Patrocínios não foram confirmados
  • Na Série A, barracões em más condições





  • O barracão da Unidos do Porto da Pedra: escola da Série A ainda desmonta alegorias do ano passado, que terão 80% de suas estruturas aproveitados   
    
O barracão da Unidos do Porto da Pedra: escola da Série A ainda desmonta alegorias do ano passado, que terão 80% de suas estruturas aproveitados
Foto: O Globo / Felipe Hanower
    O barracão da Unidos do Porto da Pedra: escola da Série A ainda desmonta alegorias do ano passado, que terão 80% de suas estruturas aproveitados   
    RIO - Se a imagem do barracão da Portela atrasado e praticamente vazio assusta o mundo do samba há semanas, não é apenas a azul e branca que, neste um mês que falta para o carnaval, vai ter acelerar muito o ritmo e torcer para que tudo fique pronto antes do desfile. Nas Cidade do Samba e nos barracões da Série A, no geral, as agremiações estão mais atrasadas do que em anos anteriores. Em algumas, a impressão que dá é de que só um milagre dos deuses da folia poderá salvá-las de um drama na Avenida. Os dirigentes põem a culpa na escassez de verbas. E dizem que recursos prometidos, às vezes até de patrocínios, ainda não chegaram. No Grupo Especial, por exemplo, das nove escolas que têm enredos supostamente patrocináveis, em cinco a estratégia para arrecadar uma verba extra ainda não rendeu o que se esperava.
    Além da Portela, agremiações tradicionais como Mangueira e Mocidade Independente vão ter que se desdobrar para conseguirem levar seu projeto completo para a Sapucaí. Enquanto na Série A (união dos antigos grupos de Acesso A e B), há escolas que estão desmontando alegorias do ano passado. E outras ainda aprontam a primeira fase de execução de um carro alegórico: a ferragem que dá sustentação à estrutura.

    Entre as escolas do Grupo Especial, os dirigentes afirmam que, há um mês do desfile, mais de R$ 1,5 milhão dos cerca de R$ 5,5 milhões que as agremiações normalmente recebem não foram repassados. Presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), Jorge Castanheira, confirma que as agremiações ainda não receberam o R$ 1 milhão destinado a cada escola por meio de um convênio da Petrobras com o governo do estado. Segundo ele, a empresa já teria liberado o recurso, mas problemas burocráticos atravancariam a transferência do dinheiro pela Secretaria estadual de Cultura. Por enquanto, diz Castanheira, não há uma previsão para o repasse. De acordo com a Secretaria de Cultura, a demora se deve ao fato de a Liesa ter tido de apresentar um novo projeto para captação do recurso, diante da inadimplência de uma das escolas — que a secretaria não revelou qual. O projeto, segundo o órgão, foi apresentado em 4 de janeiro e passa por avaliação.
    — Os recursos têm chegado muito em cima do carnaval, num período em que a demanda para os fornecedores é grande e os preços se tornam menos favoráveis. Estamos fazendo um projeto para viabilizar essa verba mais cedo no próximo carnaval — diz Castanheira.
    Além disso, presidentes das agremiações afirmam que tampouco chegaram os cerca de R$ 370 mil do governo do Estado, assim como parte da verba da venda de ingressos. Enquanto o repasse da prefeitura do Rio — aproximadamente R$ 1 milhão para cada escola — entrou apenas na semana passada.
    Patrocínios não foram confirmados
    Quanto aos patrocínios, Beija-Flor, Vila Isabel, Salgueiro e Mangueira já tiveram a ajuda extra confirmada, embora a verde e rosa também seja uma das mais atrasadas da Cidade do Samba. União da Ilha, São Clemente e Portela têm enredos que não contam com patrocínios. Já a Inocentes de Belford Roxo, que falará da Coreia do Sul, chegou a receber em seu barracão visita do embaixador do país, Bon-Woo Koo. E, em junho, assinou uma carta de intenção de parceria com a Associação Brasileira dos Coreanos. Em dezembro passado, contudo, anunciou o rompimento com o grupo, alegando que, até então, a associação não tinha apresentado possibilidade alguma de apoio ao carnaval da escola. Quem dá apoio à agremiação é uma marca de iogurte frozen coreana.
    Grande Rio também diz não ter patrocínio, mas apenas apoio, quase todos de empresas que tradicionalmente já ajudam no carnaval da tricolor de Caxias. A Mocidade, antes mesmo do carnaval 2012, anunciou ao lado do empresário Ruben Medina que traria para este ano o enredo sobre o Rock in Rio, com expectativas de uma injeção de investimentos em seu desfile. Até agora, no entanto, as informações na verde e branca são de que duas empresas que apoiam o evento ajudam no desfile da agremiação. Mas o apoio teria coberto pouco das despesas da escola, que é uma das que enfrentam mais dificuldades na Cidade do Samba. Apesar disso, a diretoria da escola afirmou em nota que obteve autorização para captar R$ 5 milhões da Lei Rouanet. Por enquanto, porém, fontes dizem que a agremiação não captou um tostão sequer.
    Já dirigentes da Imperatriz (que cantará o Pará) e Unidos da Tijuca (que falará da Alemanha) garantem que escolheram seus enredos sem vinculação com patrocínios, embora sejam temas claramente propícios a apoios externos. No caso do presidente da campeã de 2012, Fernando Horta, ele afirma que a agremiação ainda tenta parceria com empresas alemãs.
    — A embaixada da Alemanha também nos ajuda. E a Tijuca conta com apoios fixos da escola, independente do enredo — diz ele.
    Na Imperatriz, o diretor de carnaval Wagner Araújo diz que a escola planeja seu desfile para gastar apenas o que as agremiações normalmente recebem de vendas de ingressos e direito de imagem, por exemplo.
    — Não temos patrocínio. Não houve acordo algum desse tipo. Escolhemos o enredo porque achamos que é muito carnavalesco. E o Pará é um estado que está na moda, muito interessante — diz Wagner. — Nossa filosofia é planejar e administrar com o que o se recebe. Se houver entrada de um dinheiro que não esperamos, vestiremos mais gente da comunidade, socorremos eventualmente uma ala com dificuldade... — completa ele.
    Apesar de não ter patrocínio, Inocentes, Tijuca e Imperatriz não são das mais atrasadas. Mas até escolas que não costumam ter problemas de dinheiro, como a Beija-Flor e a Grande Rio, estão em ritmo mais vagaroso. Na azul e branca de Nilópolis, o diretor de carnaval Laíla tem dito que as agremiações estão em crise. E, na tricolor de Caxias, normalmente uma das mais adiantadas da Cidade do Samba, ainda resta muito por fazer.
    Já na Portela, a situação é agravada por uma crise política e financeira que tem dividido a escola. Em dezembro, atrasos nos pagamentos de funcionários e de contas forçaram até o cancelamento de ensaios e levaram a ameaças de pedidos de demissão. Para agravar, problemas nas prestações de contas de carnavais anteriores geraram impedimentos para captação de recursos. A escola de Madureira não pode obter, por exemplo, novas verbas pela Lei Rouanet. E foi incluída no Cadastro de Entidades Privadas Sem Fins Lucrativos Impedidas (Cepim), divulgado pela Controladoria Geral da União (CGU), por irregularidades em prestações de contas referentes a recursos de R$ 525 mil do Ministério do Turismo no carnaval 2006, sobre a Marca Brasil, e de R$ 1,8 milhão recebidos do Ministério do Esporte para o carnaval 2007, sobre os Jogos Pan Americanos no Rio.
    Na Série A, barracões em más condições
    Para as escolas da Série A, com verbas muito menores do que das ricas, os problemas parecem ainda mais sérios. Apenas na semana passada a Riotur liberou R$ 6,4 milhões para serem divididos entre as 19 agremiações do grupo. Algumas, porém, dizem que ainda não receberam a subvenção.
    Uma das que enfrentam problemas mais sérios é a Unidos do Porto da Pedra. Após o rebaixamento do Grupo Especial ano passado, a escola teve que deixar seu barracão na Cidade do Samba e, até cerca de um mês atrás, estava com suas alegorias na rua, na Zona Portuária. Nesse período, parte de seu material pegou fogo. E só há aproximadamente um mês conseguiu um galpão na região para confeccionar seu desfile. Para complicar, a vermelha e branca sofreu com mudanças de presidência e, recentemente, de carnavalesco, quando Fábio Ricardo deixou a agremiação e o ex-assessor de imprensa, Leandro Valente, assumiu o carnaval. No barracão, alegorias do ano passado ainda são desmontadas para ganhar nova decoração. E os protótipos de fantasias começam a ganhar formas. Prevendo que muita gente vai ter que dormir no barracão para fechar tudo a tempo, funcionários estão limpando um trailer para fazer de dormitório.
    — Querem um espetáculo bonito. Mas há um mês estávamos na rua. Não apareceu ninguém para ajudar. Parece até preconceito com a escola, que não é da cidade do Rio. Perdemos mais de R$ 1 milhão de material no incêndio. Vamos reaproveitar 80% da estrutura dos carros do ano passado. Estamos convocando a comunidade. Tem muita gente trabalhando no amor, sem receber nada — disse o presidente da agremiação, Fábio Montebelo.
    Na Alegria da Zona Sul, outra escola atingida pelo mesmo incêndio que afetou a Porto da Pedra, o presidente Marcus Almeida afirma que, até agora, a agremiação recebeu, semana passada, R$ 280 mil da prefeitura. Faltariam, segundo ele, R$ 200 mil. Valor que ele diz ser bem menos do que os R$ 700 mil que as escolas projetavam antes, se fosse mantido o que cada agremiação do Grupo A ganhava ano passado.
    — É o carnaval mais estranho que já vivi. Pela primeira vez, teremos nossos desfiles transmitidos pela Rede Globo, o que nos alegra. Mas enfrentamos uma das maiores dificuldades para aprontar o carnaval. No nosso caso, o que piora a situação é que o incêndio que atingiu nosso barracão o deixou com muitos danos — diz Almeida, próximo a uma enorme poça d’água no meio do galpão em que a escola confecciona suas alegorias.
    Perto dali, União do Parque Curicica e Tradição dividem um mesmo barracão. Na primeira, a maioria dos carros ainda está no ferro. E na Tradição, um deles está na madeira. A previsão de Nésio Nascimento, presidente da agremiação, que surgiu de uma dissidência da Portela, afirma que será preciso montar um carro alegórico por semana até o carnaval.
    — Vai ficar tudo pronto — garante.
    Carnaval vai render US$ 665 milhões ao Rio
    Presidente da Liga das Escolas de Samba do Rio (Lierj, que gere a Série A), Deo Pessoa afirma que a liga se articula para, ano que vem, as verbas serem liberadas mais cedo. E ressalta que, no caso da Série A, as verbas dos ingressos, por exemplo, não são tão significativas. A maioria das entradas para arquibancadas, por exemplo, custa apenas R$ 10.
    — Não vejo como uma obrigação o poder público repassar verbas ao carnaval. Mas como uma contrapartida ao que as escolas representam como atividade cultural e artística para a cidade, além de trazerem turistas e fazerem com que nossa população permaneça na cidade durante o carnaval. Mas as verbas chegarem tão em cima da hora acaba atrapalhando o planejamento. Principalmente para as escolas menores e que estão surgindo agora, como algumas da Série A. São agremiações que dependem mais desse dinheiro. Mas que já têm grande importância para suas comunidades e revelam talentos do samba para a cidade — diz Deo.
    Apesar das dificuldades que choram as escolas de samba, a expectativa da Riotur é que, no carnaval, a cidade receba 900 mil turistas. E a economia do Rio será impactada com a entrada de US$ 665 milhões do turismo.


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